O texto que seguidamente se apresenta carece de duas notas prévias:
¨ Em primeiro lugar, a sua forte inspiração e sustentação num texto bastante anterior do meu colega José Filipe Corrêa Guedes, a quem, também deste modo, presto a minha singela homenagem;
¨ Em segundo lugar, ao facto de, datando a sua versão final de 12.Set.2012, corresponder ele a convicções de há muito por mim expressas(*) a amigos, colegas e, inclusive, muitas dezenas de alunos e participantes em programas de Formação de Executivos; A sua divulgação por este meio hoje, e a capa do suplemento económico do semanário Expresso de 16 de Março de 2013 é, portanto, rigorosamente uma coincidência.
(*) A simples constatação do nome atribuído a um dos personagens comprova-o inegavelmente.
§§§
A PARÁBOLA DA DIVIDA
Foi assim que o Tio Sam
respondeu a Mercklozy em relação ao perdão.
§§§
A questão da
dívida não era nova.
E, o Tio Sam
prosseguiu citando o evangelista S. Mateus – 18;23 e seguintes:
‘23. Por
isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com
os seus servos;
24. E,
começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil
talentos;
25. E
não tendo ele como pagar, o seu Senhor mandou que ele e sua mulher e seus
filhos fossem vendidos com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse;
26.
Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso
para comigo e tudo te pagarei.
27.
Então o Senhor daquele servo, movido de íntima compaixão soltou-o e perdoou-lhe
a dívida’.
“A decisão
do Rei”, continuou o Tio Sam “é um acto de piedade; O que quer que tenha
determinado o incumprimento não é relevante: pode ter ocorrido uma calamidade
ou simplesmente gestão negligente.
Deus perdoa
aos arrependidos exigindo aos credores que não se limitem a conceder apenas uma
segunda oportunidade.”
Mercklozy
ouvia inquieto.
“O perdão de
dívidas é um acto de misericórdia mas que prossegue uma lógica equitativa” – sublinhou
o Tio Sam que continuou citando o Evangelista:
‘28.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem
dinheiros e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
29.
Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê
generoso para comigo, e tudo te pagarei.
30.
Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo numa prisão, até que pagasse a
dívida.
31.
Vendo pois os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram
declarar ao seu Senhor tudo o que se passara.
32.
Então o seu Senhor, chamando-o á sua presença, disse-lhe: servo malvado, perdoei-te
toda aquela dívida, porque me
suplicaste;
33.
Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive
misericórdia de ti?
34.
E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores até que pagasse tudo o
que devia’.
Mercklozy
ouviu estupefacto e o Tio Sam continuou:
“Por isso se
Deus no Novo Testamento é um Deus misericordioso e imparcial, é também um Deus
justo como, aliás, já o era no Antigo Testamento: no capítulo 15 do Deuteronómio
- o quinto livro da Torah - estipula-se o princípio do cancelamento das dívidas
de sete em sete anos ampliando as normas sabáticas – descanso da terra e
libertação de escravos – às actividade de mútuo.
No Levítico, as normas mosaicas vão mesmo mais longe ao determinarem que no 7º ano sabático – o ano do Jublileu -, as terras vendidas durante os 49 anos anteriores deveriam ser devolvidas gratuitamente aos seus anteriores proprietários reflectindo uma preocupação com a estabilidade social num mundo rural onde a assimetria de riqueza poderia comprometer a coesão social indispensável à sobrevivência num universo rodeado de vizinhos hostis.
Na sociedade hebraica as actividades de mútuo eram, pois, estimuladas não servindo para financiar actividades comerciais com fins lucrativos ou elevar padrões de consumo, mas para acudir a situações de emergência económica, como por exemplo, perda de colheitas”, explicou o Tio Sam.
“O
cancelamento das dívidas por parte dos credores”, - prosseguiu – “neste
contexto é um acto de justiça social, redistribuindo as perdas causadas por
calamidades, dos mais afectados para os menos afectados”:
“Portanto” –
concluiu o Tio Sam “-quer o perdão das dívidas consagrado no Novo Testamento,
quer o seu cancelamento prefigurado no Antigo Testamento, evidenciam um Deus
misericordioso mas justo.”
Mercklozy,
lívido, quedou-se incrédulo: perdão das dívidas? cancelamento das dívidas?
Parábola?
Alegoria?
Profecia?
Europa?
Portugal?
Quem
diria!!...
… Disse!!...
lembrando factos com mais de sessenta anos ocorridos na Europa, então em
escombros, avisadamente recordados na perspectiva de que, como se diz, “para
quem não sabe História, uma pedra é apenas uma pedra…”
Paulo Modesto Pardal
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