No decurso dum processo de pesquisa noutra área,
acabei por revisitar, recentemente, um editorial de primeira página do
Semanário Expresso na sua edição de 30 de Dezembro de 2000.
Pelas razões que por certo compreenderão, não resisti
à tentação da sua reprodução nesta sede, o que faço com a devida vénia.
O Fim da Aventura
O milénio que amanhã chega
ao fim ficará registado na História de Portugal como o da aventura da independência.
Independência iniciada no século XII com a revolta de um filho contra a mãe,
confirmada em inúmeras batalhas contra inimigos estrangeiros, ampliada nos
séculos XV e XVI com a fundação de um império colonial, defendida politicamente
no início deste século.
E o que é possível constatar é
que, enquanto as questões se resolveram pela força das armas, Portugal pôde
manter a sua independência.
Pôde mantê-la, ainda, quando
passaram a resolver-se pela via da política.
Mas, no momento em que a
independência passou a jogar-se no plano económico, o país claudicou.
E, no dealbar do milénio, parece
já não ter condições para resistir à «invasão europeia» e, em primeira linha, à
«invasão espanhola».
Assim, o próximo milénio poderá
ser, para Portugal, o da perda da
independência.
A economia portuguesa definha e
não revela qualquer capacidade para competir com as grandes - e mesmo com as
pequenas - economias da Europa.
A balança comercial
desequilibra-se a um ritmo assustador.
A agricultura está em declínio
desde a década de setenta e 60% dos alimentos que comemos são já importados. Os
subsídios da União Europeia têm servido em larga escala para alimentar a
preguiça nacional, habituando-nos a viver à custa dos outros, fomentando
hábitos de consumo que não têm qualquer correspondência com aquilo que
produzimos.
Daqui a mil anos é provável que
Portugal não seja já um Estado: seja pouco mais do que uma costa.
Uma costa extensa, com o atractivo
de se situar no extremo ocidental da Europa, que alguns europeus escolherão
para passar uns dias ao sol a comer marisco - se ainda for possível apanhar sol
e se no mar ainda houver marisco.
O interior do território será,
eventualmente, um deserto com meia dúzia de pontos de interesse, relíquias do
passado, testemunhos de outros tempos (gravuras rupestres, megalitos, dois ou
três castelos, uma ou duas catedrais), onde os turistas pararão para fazer umas
compras e tirar fotografias - se ainda existir o hábito de fazer compras e
houver máquinas fotográficas.
O milénio que agora acaba foi o da
aventura de um pequeno povo situado nos confins da Europa - que conquistou a
sua independência, teve uma expansão fulminante e entrou em declínio.
O milénio que agora começa muito
dificilmente reservará a este povo em recessão numérica qualquer papel de
relevo.
Será terrível pensar assim?
Às vezes é preciso ganharmos
distância em relação ao que somos, olharmo-nos de fora, observarmos a realidade
para lá da nossa própria circunstância.
A verdade é que a História não tem
um fim.
Nenhuma conquista é definitiva.
Nenhuma etapa é a última.
Para memória futura !!...
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