Do exposto decorre, contudo, a
questão com que culminamos o artigo anterior: se a produção orçamental é uma
prática enraizada no tecido empresarial com um mínimo de dimensão, se na mesma
se procede tradicionalmente ao by-pass
das etapas constituintes do processo de Planeamento substituindo-as pela
estipulação de Previsões mas, se se admite a incapacidade intrínseca do
Executivo para o efeito, então... como é que se preparam os Orçamentos??...
Facilmente: Assumindo como
previsões, meras extrapolações algébricas do passado, ponderando-o por factores
mais ou menos standart, como taxa de
inflação, crescimento do volume de negócios e, naturalmente, as
famigeradas “folgas” ou, mais brejeiramente,
“coeficientes de cagaço”...
A metodologia do estabelecimento
de previsões para suporte dum putativo processo de planeamento é, estruturante,
anacrónico, mas, infelizmente, recorrente...
Experimente o leitor fazer o
seguinte: peça a um seu colaborador uma previsão sobre a evolução futura de
determinado item, legitimando-o a solicitar-lhe o que ele necessitar para o
efeito; Nove em cada dez inquiridos solicitar-lhe-ão, imediata e
espontaneamente, o valor desse item registado no período homólogo anterior...
Desta forma, o suporte do
processo de planeamento em previsões inquina-o com o vírus da
desresponsabilização.
Faça, mais uma vez, o
leitor o teste: solicite a alguém uma previsão sobre algo fora do seu controlo;
se obtiver resposta, provavelmente, ela resultará errada; Questione então a
pessoa pelo falhanço; ainda, muito provavelmente, obterá como resposta,
enquadrada num sorriso equívoco: “Bom... foi só uma previsão!!...”
Recorde-se, caro leitor,
quantos astrólogos, na primeira quinzena de Dezembro de cada ano, enumeram as
suas previsões para o ano seguinte; Consegue recordar-se de quantos dos mesmos,
na primeira quinzena de Janeiro do ano seguinte justificam os seus erros?!...
Mas porque é assim? Porque, mais uma vez, como os indivíduos, honesta e responsavelmente não se arrogam de dotes premonitórios, defendem-se produzindo cifras não contextualizadas em termos de Planeamento, mas que são perfeitamente satisfatórias para o cumprimento do dever: o Orçamento!
Ora, para além do paradoxo em
quem consiste tentar planear o futuro com base no passado num mundo em mudança
constante e acelerada, a exclusividade do recurso a análises de tipo histórico
para a produção de orçamentos, é um anacronismo grotesco que só conduz,
1º à não estimulação da criatividade,
2º à criação de constrangimentos endógenos à inovação,
3º ao recalque de comportamentos de resistência à mudança
e, finalmente,
4º à institucionalização de vícios e ineficiências
caracterizadores do passado.
Grave, ainda, é que é assim que o
processo se torna endémico, na perspectiva organizacional, promovendo a
substituição do ciclo virtuoso da gestão moderna – Planeamento → Realização → Controlo
– por um ciclo vicioso de práticas – “Histórico” → Previsões → Orçamentos – que,
ao esvaziar o conteúdo do processo de Planeamento, reduz o Orçamento a um mero
exercício destituído de qualquer utilidade numa lógica de Controlo.
Duas novas questões se nos
colocam então imperativamente: Para que servem então os Orçamentos?
Alternativamente, o que fazer para lhes (re)conferir dignidade instrumental?
È na resposta a estas questões
que consistirá o nosso terceiro e último texto nesta área.
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