quarta-feira, 15 de maio de 2013

QUO VADIS ORÇAMENTO (II)

Como se começou a tentar demonstrar no primeiro desta série de textos, Planear, no contexto empresarial, não pode ser confundido com Prever.

Do exposto decorre, contudo, a questão com que culminamos o artigo anterior: se a produção orçamental é uma prática enraizada no tecido empresarial com um mínimo de dimensão, se na mesma se procede tradicionalmente ao by-pass das etapas constituintes do processo de Planeamento substituindo-as pela estipulação de Previsões mas, se se admite a incapacidade intrínseca do Executivo para o efeito, então... como é que se preparam os Orçamentos??...

Facilmente: Assumindo como previsões, meras extrapolações algébricas do passado, ponderando-o por factores mais ou menos standart, como taxa de inflação, crescimento do volume de negócios e, naturalmente, as famigeradas  “folgas” ou, mais brejeiramente, “coeficientes de cagaço”...

A metodologia do estabelecimento de previsões para suporte dum putativo processo de planeamento é, estruturante, anacrónico, mas, infelizmente, recorrente...
Experimente o leitor fazer o seguinte: peça a um seu colaborador uma previsão sobre a evolução futura de determinado item, legitimando-o a solicitar-lhe o que ele necessitar para o efeito; Nove em cada dez inquiridos solicitar-lhe-ão, imediata e espontaneamente, o valor desse item registado no período homólogo anterior...

Desta forma, o suporte do processo de planeamento em previsões inquina-o com o vírus da desresponsabilização.
Faça, mais uma vez, o leitor o teste: solicite a alguém uma previsão sobre algo fora do seu controlo; se obtiver resposta, provavelmente, ela resultará errada; Questione então a pessoa pelo falhanço; ainda, muito provavelmente, obterá como resposta, enquadrada num sorriso equívoco: “Bom... foi só uma previsão!!...”

Recorde-se, caro leitor, quantos astrólogos, na primeira quinzena de Dezembro de cada ano, enumeram as suas previsões para o ano seguinte; Consegue recordar-se de quantos dos mesmos, na primeira quinzena de Janeiro do ano seguinte justificam os seus erros?!...


Mas porque é assim? Porque, mais uma vez, como os indivíduos, honesta e responsavelmente não se arrogam de dotes premonitórios, defendem-se produzindo cifras não contextualizadas em termos de Planeamento, mas que são perfeitamente satisfatórias para o cumprimento do dever: o Orçamento!
Ora, para além do paradoxo em quem consiste tentar planear o futuro com base no passado num mundo em mudança constante e acelerada, a exclusividade do recurso a análises de tipo histórico para a produção de orçamentos, é um anacronismo grotesco que só conduz,

1º à não estimulação da criatividade,
2º à criação de constrangimentos endógenos à inovação,
3º ao recalque de comportamentos de resistência à mudança e, finalmente,
4º à institucionalização de vícios e ineficiências caracterizadores do passado.

Grave, ainda, é que é assim que o processo se torna endémico, na perspectiva organizacional, promovendo a substituição do ciclo virtuoso da gestão moderna – Planeamento → Realização → Controlo – por um ciclo vicioso de práticas – “Histórico” → Previsões → Orçamentos – que, ao esvaziar o conteúdo do processo de Planeamento, reduz o Orçamento a um mero exercício destituído de qualquer utilidade numa lógica de Controlo.

Duas novas questões se nos colocam então imperativamente: Para que servem então os Orçamentos? Alternativamente, o que fazer para lhes (re)conferir dignidade instrumental?

È na resposta a estas questões que consistirá o nosso terceiro e último texto nesta área.

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