terça-feira, 16 de abril de 2013

“ÉTICA E AS EMPRESAS”



Contaram-me recentemente um episódio notável:

“Determinado indivíduo, cuja apetência ao consumo ultrapassava largamente o rendimento disponível, viu-se subitamente bastante endividado; Acossado pelos credores e, sem capacidade de cumprimento da totalidade dos compromissos assumidos, promoveu o seguinte expediente: todos os meses, em função da situação da sua tesouraria, realizaria um sorteio entre os credores, liquidando a dívida aos sorteados;
Ao fim de algum tempo, um credor ainda não bafejado pela sorte tornou-se muito insistente na cobrança ao que o nosso herói respondeu:
‘- Cuidado!!... Não me pressionem... Estou a fazer um esforço para pagar a quem devo... Mas  se continuam  a  incomodar-me... retirar-vos-ei dos sorteios!!...´”

Muito mais que a faceta humoristica, o episódio evidência um estado de alma revelador duma profunda transformação do quadro de valores referenciais nos negócios; De algum modo, dantes pagava-se quando se devia: hoje paga-se... quando se pode...

E isto porque, em primeiro lugar, o consumismo legitimou o endividamento e, em segundo, as ineficácia e ineficiência do sistema judicial não permitem a punição atempada do incumprimento.

Este último factor tem vindo, todavia, a assumir-se como estruturante nas sociedades democráticas do ocidente, em meu entender, como reflexo dum recrudescimento do proibicionismo – no mínimo, paradoxal, no regime das liberdades - originando a degenerescência do primado “Tudo o que não é proibido é permitido” em “Tudo o que não é punido é permitido”.

Ora, o que se passa com as pessoas alastra naturalmente para as empresas.

O tecido empresarial português é extremamente atomizado.
Dados do Ministério da Economia reportados a 2000 permitiam concluir que a empresa média portuguesa empregava 5,7 indivíduos e facturava, anualmente, 480 milhares de euros.
Nestas circunstâncias, as interdependências estratégicas e operacionais, por um lado e, por outro a impossibilidade de regulamentação extensiva, parecem sugerir a indispensabilidade de emergência de outros valores de referência: Trabalho, Talento e ... Ética!

É neste sentido que não hesito, desde já, naturalmente sem prejuízo de desenvolvimentos adicionais do tema em próxima oportunidade, em afirmar que, enquanto conjunto de princípios morais e valores pelos quais os indivíduos regem a sua conduta na qualidade de responsáveis pelo destino das empresas que comandam, Ética, muito mais que um factor crítico de sucesso deverá ser assumida como um garante de sustentabilidade.

Oxalá o entendam os nossos Empresários!!...

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