Contaram-me recentemente um episódio notável:
“Determinado indivíduo, cuja apetência ao
consumo ultrapassava largamente o rendimento disponível, viu-se subitamente
bastante endividado; Acossado pelos credores e, sem capacidade de cumprimento
da totalidade dos compromissos assumidos, promoveu o seguinte expediente: todos
os meses, em função da situação da sua tesouraria, realizaria um sorteio entre
os credores, liquidando a dívida aos sorteados;
Ao fim de algum tempo, um credor ainda não
bafejado pela sorte tornou-se muito insistente na cobrança ao que o nosso herói
respondeu:
‘- Cuidado!!... Não me
pressionem... Estou a fazer um esforço para pagar a quem devo... Mas se continuam a
incomodar-me... retirar-vos-ei dos sorteios!!...´”
Muito mais que a faceta humoristica, o episódio evidência
um estado de alma revelador duma profunda transformação do quadro de valores
referenciais nos negócios; De algum modo, dantes pagava-se quando se devia: hoje
paga-se... quando se pode...
E isto porque, em primeiro lugar, o consumismo legitimou o
endividamento e, em segundo, as ineficácia e ineficiência do sistema judicial não
permitem a punição atempada do incumprimento.
Este último factor tem vindo, todavia, a assumir-se como
estruturante nas sociedades democráticas do ocidente, em meu entender, como
reflexo dum recrudescimento do proibicionismo – no mínimo, paradoxal, no regime
das liberdades - originando a degenerescência do primado “Tudo o que não é
proibido é permitido” em “Tudo o que não é punido é permitido”.
Ora, o que se passa com as pessoas alastra
naturalmente para as empresas.
O tecido empresarial português é extremamente atomizado.
Dados do Ministério da Economia reportados a 2000 permitiam
concluir que a empresa média portuguesa empregava 5,7 indivíduos e facturava,
anualmente, 480 milhares de euros.
Nestas circunstâncias, as interdependências estratégicas e
operacionais, por um lado e, por outro a impossibilidade de regulamentação
extensiva, parecem sugerir a indispensabilidade de emergência de outros valores
de referência: Trabalho, Talento e ... Ética!
É neste sentido que não hesito, desde já, naturalmente sem
prejuízo de desenvolvimentos adicionais do tema em próxima oportunidade, em
afirmar que, enquanto conjunto de princípios morais e valores pelos quais os
indivíduos regem a sua conduta na qualidade de responsáveis pelo destino das
empresas que comandam, Ética, muito mais que um factor crítico de sucesso deverá
ser assumida como um garante de sustentabilidade.
Oxalá o entendam os nossos Empresários!!...
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