terça-feira, 30 de abril de 2013

Contabilidade de Gestão: Factor Crítico de Produtividade e Competitividade



No n/último texto procuramos evidenciar a indispensabilidade da reconceptualização da Contabilidade nas organizações: de sistema de informação normalizado e orientado para a preparação de informação para agentes externos à organização, v.g. Estado, Banca, Mercados, Investidores, etc. para um sistema de informação adequado às necessidades específicas dos Executivos no suporte do processo de tomada de decisão.

Quando, em contexto académico ou empresarial, questionamos – e fazemo-lo há muito, mesmo muito tempo!!... – Executivos dos mais diversos tipos de instituições sobre quantas decisões já tomaram na sua vida profissional com base em informação contabilística, mais de 90% das respostas é um significativo “Nunca !!…” eventualmente justificado pelo facto de “… a contabilidade não satisfaz a(s) minha(s) necessidade(s) informativas” dado que “só serve para os impostos!!...”.

Urge sanear este estado de coisas!!...
Urge (voltar a) conferir à informação contabilística, enquanto ferramenta de gestão, a importância, a dignidade que merece!!...
Urge libertar a Contabilidade do jugo da Fiscalidade e da correspondente standartização imposta de fora para dentro!..

Um dos principais, senão mesmo o principal handicap que empresas e outras instituições nacionais evidenciam no ambiente competitivo em que operam, consiste na inadequação e ineficácia dos seus modelos de Controlo de Gestão e Avaliação de Performance.
Ora, tal facto decorre, em larga medida, das insuficiências gritantes dos seus Sistemas de Informação de Gestão, mormente de natureza contabilística e financeira.

Como calcular o custo de funcionamento dum determinado departamento da sua organização incluindo custos indirectos que lhe sejam atribuíveis?
Como calcular o custo unitário e a rendibilidade dum determinado produto ou serviço da organização nas mesmas condições?
Como decidir acerca do preço a praticar para o seu produto ou serviço num negócio especial? 
Como decidir sobre desenvolver internamente determinado serviço ou proceder a outsourcing?  
Como decidir sobre comercializar um produto e/ou serviço no actual estádio de transformação ou comercializá-lo após um up-grade técnico ou tecnológico?
Como decidir sobre a continuidade ou o encerramento da exploração duma subsidiária ou sucursal da sua empresa, dados os prejuízos registados?
Ou, analogamente, no que concerne a uma gama de produtos e/ou serviços?

É a estas e muitas outras questões, que se colocam quase diariamente aos Executivos, que os Sistemas de Informação Financeira tradicionais, suportados em modelos normalizados de Contabilidade vocacionados para o reporte informativo para o exterior, não dão resposta.
A constatação de tal facto determina a incontornabilidade da concepção de modelos evoluídos de Contabilidade de Gestão que assegurem a satisfação das necessidades informativas cada vez mais específicas da Gestão para Controlo e Avaliação de Performance.

A actual conjuntura económica nacional e internacional faz recrudescer a sua importância; Em economias deprimidas ou com perspectivas de moderado ou até mesmo nulo crescimento, a manutenção de níveis mínimos de rendibilidade passa, muito mais que pelo aumento de proveitos, pela contenção e racionalização dos custos para o que se torna, naturalmente indispensável o conhecimento da sua estrutura e processo de formação.
O mesmo pode ser afirmado no contexto do Sector Público: o conhecimento e racionalização do processo de formação dos custos de operação é, igualmente, um contributo vital, em termos macroeconómicos, para a contenção da própria Despesa Pública.

É neste sentido que a Contabilidade de Gestão se assume como um factor crítico de produtividade e competitividade na gestão das organizações no séc. XXI.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Primavera na Contabilidade


“Dêem-me uma Secretária e um Contabilista e eu conquistarei o Mundo...”.
A frase é atribuída a Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, no primeiro quartel do século passado.

Se a referência à Secretária é espontaneamente aceite, não só pelo melindre e complexidade do elenco de tarefas compreendidas mas, principalmente, pelo espírito de missão com que são desenvolvidas pelos bons profissionais, já a referência ao Contabilista deixa sempre muita gente nas empresas surpreendida. O estado actual das coisas em matéria de Contabilidade não estimula a compreensão da sua utilidade para a gestão das organizações, não permite clarificar que a Contabilidade não é um fim em si mesmo mas um instrumento na prossecução dos objectivos globais das organizações.

Perguntar-se-á, então, como se atingiu este estado de coisas.

Desde que, em 1494, o monge franciscano Luca Paciolli deu à estampa o primeiro tratado sobre Contabilidade até à actualidade, o conhecimento contabilístico evoluiu significativamente; Numa primeira fase, visava constituir um auxiliar, por um lado, de memória, mediante o registo histórico das transacções e, por outro, de cálculo, no processo de apuramento dos ganhos e perdas emergentes para os agentes económicos e encontrava-se eminentemente orientada para a actividade do comércio.

A Revolução Industrial vem questionar esta monotonia vocacional, em resposta ao que a doutrina contabilística se expande conceptualmente, robustecendo-se com uma nova valência: a capacidade de relevar os fenómenos internos de transformação fabril.

O progresso das tecnologias, a evolução na curva de experiência do seu domínio, a percepção do fenómeno das economias de escala e a sensação de capacidade de indução de comportamentos e hábitos de consumo, convergentemente, vêm a determinar que as fábricas rudimentares reduzidas à monoprodução dêem lugar a complexas unidades industriais multi-produto; A questão tornou-se rapidamente o Adamastor dos modelos contabilisticos de matriz industrial: como tratar os custos comuns?

A Contabilidade, com celeridade, procurou responder a esta nova questão desenvolvendo métodos e técnicas com vista à análise dos processos de formação de valor nos negócios; E, quando, já no último terço do século XX, no mundo ocidental, se assiste ao advento da era do Controlo na Gestão, fácil se tornou adaptar a doutrina contabilística, desenvolvida para a valorização de produtos/serviços e de departamentos/secções, no sentido de a operacionalizar numa lógica de avaliação de “performance” para optimização da produtividade e reforço da competitividade.

Ora, o percurso evolutivo que se tentou descrever revela uma focalização crescentemente centrada no interior das instituições com o objectivo imediato de produção de conhecimento para a sustentação das decisões a tomar pelos seus responsáveis.

A questão não se coloca, portanto, no plano da doutrina contabilistica.

O problema nasce na “praxis” contabilistica e no que ela foi influenciada pela sucessão de acontecimentos em sentido contrário que caracterizaram o século XX  nas matérias da Contabilidade e que são conhecidos como “Normalização Contabilistica”.

A normalização contabilistica enquanto conjunto de princípios, normas e procedimentos de utilização imperativa por parte de agentes económicos no processamento da informação contabilistica, com vista à sua harmonização sob perspectivas sectorial, nacional e, até mesmo, internacional, vem claramente prejudicar o recurso à informação contabilistica para finalidades internas; Neste sentido, retira potencialidades informativas à Contabilidade de cada agente económico, pela uniformização de procedimentos de tratamento dos dados não atendendo às especificidades inerentes à dimensão e sector de actividade de inserção das empresas.

Já em 1960 Gonçalves da Silva o perspectivava, quando, na abertura da 2ª edição do seu “Contabilidade Industrial”, citava W.J. Vatter: “It is impossible to set up any kind of an accounting system, even in theoretical terms, that would meet the needs of any large number of companies; There are always special reasons for doing things in particular ways, peculiar problems to be met and unusual circumstances to be faced”.

Este “maoísmo contabilístico” – curiosamente bastante bem aceite pelos seus principais protagonistas pois é sempre mais fácil cumprir ordens do que criar convenções ... – tem, ainda, uma outra desvantagem importante: é que, a lógica normativa que passou a imperar faz parecer constituir informação exacta algo que o não é... Sendo certo que o conhecimento em Contabilidade assume natureza paramétrica e não determinista, na historieta que se conta, de perguntar a um Advogado, a um Médico e a um Contabilista quantos são dois mais dois, ao que este último responderia ‘Quanto quer que seja?’ só vê piada quem não percebe nada de Contabilidade...

Porém, o progressivo reforço da componente normativa e consequente esvaziamento doutrinário e conceptual da prática contabilistica actual tende a ignorá-lo e, por isso, poderá ter igualmente contribuido para explicar, em alguma medida os recentes escândalos contabilísticos conhecidos; Sem dramatismos, contudo, já que subscrevo integralmente o optimismo do empresário norte-americano John Malone que, sobre o assunto, sentenciou “… faz-me lembrar a Primavera, quando a neve derrete e vemos a ‘caca’ de cão que lá esteve o Inverno todo...”.

De facto, o paradigma de raciocínio do T.O.C. assemelha-se, hoje, mais ao de um Jurista que ao de um Gestor.

Como corolário, não hesito em arriscar que, actualmente,  nos falta em bons contabilistas o que nos sobra em B.O.C.: Burocratas Oficiais de Contas!!...
Impõe-se, portanto, com urgência recontextualizar a Contabilidade na gestão das organizações. Se é certo que, no mínimo, o bom-senso, aconselha a ponderação, pela Contabilidade, dos imperativos de ordem fiscal vigentes, não é menos certo que o seu papel de geração de informação para suporte de tomada de decisão não é compaginável com a sua subordinação à lógica normativa da Fiscalidade.
Solução? Várias contabilidades... Independentes e naturalmente não-alinhadas... Uma, a Contabilidade financeira-fiscal, a Contabilidade tradicional com uma vocação assumida de reporte externo e normalizada; Outra, a Contabilidade de Gestão, a Contabilidade na sua orientação mais pura de produção de conhecimento para a gestão de negócios, para o controlo, para a avaliação da “performance”, uma contabilidade não intervencionada vinculada apenas ao método “CARE”: Competência, Auto-Regulação e Ética...

Sonho? Utopia? Talvez não...
... É que, há um par de anos, fui confrontado com um pedido de equivalência à disciplina que lecciono, formulado por um aluno alemão que pretendia continuar os seus estudos no nosso país; Para o efeito, disponibilizaram-me o conteúdo programático da cadeira congénere na universidade alemã; Sob a epígrafe “Contabilidade Financeira e as Demonstrações Financeiras”, a terceira parte do programa abria logo o primeiro capítulo com o seguinte tema: “A Contabilidade Financeira como sub-área da Contabilidade de Gestão”.
Sorri e pensei, de consciência tranquila: “... Também eu tenho um sonho!!...”

terça-feira, 16 de abril de 2013

“ÉTICA E AS EMPRESAS”



Contaram-me recentemente um episódio notável:

“Determinado indivíduo, cuja apetência ao consumo ultrapassava largamente o rendimento disponível, viu-se subitamente bastante endividado; Acossado pelos credores e, sem capacidade de cumprimento da totalidade dos compromissos assumidos, promoveu o seguinte expediente: todos os meses, em função da situação da sua tesouraria, realizaria um sorteio entre os credores, liquidando a dívida aos sorteados;
Ao fim de algum tempo, um credor ainda não bafejado pela sorte tornou-se muito insistente na cobrança ao que o nosso herói respondeu:
‘- Cuidado!!... Não me pressionem... Estou a fazer um esforço para pagar a quem devo... Mas  se continuam  a  incomodar-me... retirar-vos-ei dos sorteios!!...´”

Muito mais que a faceta humoristica, o episódio evidência um estado de alma revelador duma profunda transformação do quadro de valores referenciais nos negócios; De algum modo, dantes pagava-se quando se devia: hoje paga-se... quando se pode...

E isto porque, em primeiro lugar, o consumismo legitimou o endividamento e, em segundo, as ineficácia e ineficiência do sistema judicial não permitem a punição atempada do incumprimento.

Este último factor tem vindo, todavia, a assumir-se como estruturante nas sociedades democráticas do ocidente, em meu entender, como reflexo dum recrudescimento do proibicionismo – no mínimo, paradoxal, no regime das liberdades - originando a degenerescência do primado “Tudo o que não é proibido é permitido” em “Tudo o que não é punido é permitido”.

Ora, o que se passa com as pessoas alastra naturalmente para as empresas.

O tecido empresarial português é extremamente atomizado.
Dados do Ministério da Economia reportados a 2000 permitiam concluir que a empresa média portuguesa empregava 5,7 indivíduos e facturava, anualmente, 480 milhares de euros.
Nestas circunstâncias, as interdependências estratégicas e operacionais, por um lado e, por outro a impossibilidade de regulamentação extensiva, parecem sugerir a indispensabilidade de emergência de outros valores de referência: Trabalho, Talento e ... Ética!

É neste sentido que não hesito, desde já, naturalmente sem prejuízo de desenvolvimentos adicionais do tema em próxima oportunidade, em afirmar que, enquanto conjunto de princípios morais e valores pelos quais os indivíduos regem a sua conduta na qualidade de responsáveis pelo destino das empresas que comandam, Ética, muito mais que um factor crítico de sucesso deverá ser assumida como um garante de sustentabilidade.

Oxalá o entendam os nossos Empresários!!...

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O Triangulo das Bermudas!


Quando, naquela manhã soalheira de Inverno, indiquei ao motorista do táxi o meu destino - determinado estabelecimento do Ensino Superior - ele questionou-me, informadamente, sobre em qual das portas, principal ou lateral, eu preferia ficar.

Meio intrigado, comentei que ele parecia conhecer bem o sítio, ao que me retorquiu:

“Sim, sim, conheço bem: andei lá cinco anos a tirar um curso!!...”

Por momentos recordei outras estórias conhecidas: a licenciada em Direito, balconista de loja de utilidades domésticas; o licenciado em Gestão, “segurança” numa instituição pública; os múltiplos eufemismos com que as grandes empresas mitigam tarefas de execução entregues a recem-licenciados, muitas vezes até com amputação do título académico, a pretexto duma “convergência na informalidade” putativamente europeia...

Por momentos confirmei que, no País que somos hoje, se não estamos já, em certas profissões, a produzir licenciados para o desemprego, já estamos, contudo, a produzi-los para o subemprego!!...

Por momentos constatei a profunda transformação ocorrida neste domínio no nosso País nos últimos trinta anos.

Até aos anos setenta, do século passado, o difícil era aceder ao Ensino Superior: a concentração dos estabelecimentos de ensino, o peso no orçamento familiar da sua frequência mormente quando determinante de realojamento, o monolitismo da oferta constituíam obstáculos inultrapassáveis pela maioria da população que, contudo, uma vez ultrapassados, permitiam o desenrolar duma “passadeira vermelha” sob os pés do então recém-licenciado em direcção ao mercado de trabalho...

O ensino superior, a Universidade era então, abastecido(a) pelos extractos alto e médio-alto da hierarquia sócio-económica criando, deste modo, uma lógica mais ou menos irreversível:

 Status - Diploma -  Prosperidade”

A sociedade civil, contudo, guiava-se e estruturava-se em função duma interpretação enviesada e incipiente da mesma que prosseguia como silogismo virtuoso:

“Diploma  -  Status -  Prosperidade”

Ora, hoje passa-se exactamente o contrário: as profundas transformações no domínio sócio-económico que caracterizaram as três últimas décadas em Portugal fazem com que o acesso à Universidade esteja razoavelmente facilitado pelo menos em termos comparativos.

O difícil é, de facto, a obtenção no mercado de trabalho, de colocação compatível!!...

Eis como, portanto, os episódios citados na início podem ser interpretados não como situações de excepção fruto da convergência de factores atipicos mas, bem pelo contrário, como exemplos respigáveis duma realidade social, económica e laboral característica...

Eis como, portanto, o silogismo virtuoso “Diploma  à  Status à  Prosperidade” evoluiu degenerativamente para uma espécie de “Triangulo das Bermudas” das ambições e das ilusões de todos aqueles que apostaram na receita errada; è que, afinal, o diploma, por banalizado, já não assegura status nem sequer prosperidade!!...

O futuro já não é o que era!!...

Que o percebam, duma vez por todas, todos aqueles que arribam ao mercado de trabalho oriundos do Ensino Superior... e, já agora, que transmitam às gerações vindouras os valores emergentes desta (r)evolução: a Competência, o Trabalho e, como consequência, o Sucesso...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O CONTROLO DE GESTÃO E AS P.M.E



Os acontecimentos registados nas últimas três décadas, a partir do choque petrolífero de 1973, terão sido os factores determinantes da (r)evolução das orientações de gestão desde então assinaladas.

Os “golden sixties”, caracterizados por uma crença infra-racional na inesgotabilidade dos recursos ou na sua permanente renovação, foram sucedidos pelos “gloomy seventies” travejados na escassez e detonadores da indispensabilidade da avaliação da produtividade. É o advento da era do “Controlo”.

A instabilidade dos modelos de desenvolvimento e a imprevisibilidade da evolução do enquadramento, levam a que o clássico processo de planeamento funcional visando a optimização da eficiência na utilização dos recursos ceda o passo a um processo sistémico que objectiva a eficácia na afectação dos mesmos; Em paralelo, o Controlo Orçamental tradicional, de matriz financeira e vocação retrospectiva, evoluiu para um modelo integrado de controlo e avaliação da “performance” enquadrado por quatro referenciais: a estratégia, os sistemas de informação, o processo de tomada de decisão e os comportamentos.

A ferramenta mais rutilante deste autêntico “control-mix” é o “Balanced Scorecard”. 


O tecido empresarial português, na área das PME, evidencia, contudo, sinais de atraso preocupante no acompanhamento dos ventos da mudança.

Quatro factores parecem poder explicá-lo.

Em primeiro lugar, a dimensão; Mesmo para um universo já segmentado, a média PME portuguesa é pequena, reflexo natural da dimensão real dum país que tarda a saber lidar com isso mesmo. No domínio do Controlo, tal facto não é estimulante da implementação de modelos com relevante impacto estratégico, não tanto pelo investimento necessário em recursos técnicos mas, muito mais, pelo sobre-esforço que implicam para os Recursos Humanos, normalmente nestas estruturas sempre muito próximo de limiares de plena utilização.

A inadequação progressiva dos sistemas de informação de gestão parece constituir uma segunda causa de constrangimentos. O seu enfeudamento à contabilidade externa normalizada determina a redução das suas valências nas perspectivas da tomada de decisão e do controlo.

Um terceiro factor parece poder ser constituído pelo quadro de valores,  competências e saberes que, numa certa perspectiva, constitui a cultura da organização. A pulverização do tecido empresarial português releva um “déficit” estrutural e estruturante de capacidade de gestão: um estudo levado a cabo pelo I.N.E. conclui que apenas 5,9% dos Directores e Gerentes de PME possuem formação superior, sendo mesmo que 79,9% apenas, exibem formação secundária. Na área do Controlo, as carências são confrangedoras; Sabendo-se que a eficácia do Controlo depende em muito da eficiência do Planeamento, não é possível pactuar com processos em que este se reduza à produção de números putativamente representativos de previsões-objectivos obtidos por mera extrapolação algébrica dos seus congéneres do período anterior!!...

Finalmente, o deficiente entendimento do próprio conceito de Controlo, costuma constituir um factor condicionante. A associação do conceito de Controlo a fiscalização, vigilância, “policiamento”, confere-lhe uma conotação “politicamente incorrecta” determinante de comportamentos de rejeição tanto mais problemáticos quanto se assumam como focos de resistência à mudança.

Começa, todavia, a ser urgente que se reconheça o impacto estratégico do Controlo na produtividade e competitividade das P.M.E..

Gerir na perspectiva do sucesso, já foi produzir, já foi vender, já foi atrair clientes, já foi informatizar; Hoje, mais do que nunca, gerir é controlar!!...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

“HIPOCRISIA, FISCALIDADE, ASTERIX E... AS PME’S”



Pessoalmente, considero a hipocrisia a característica de personalidade menos tolerável, tão baixo que é o limiar da sua metamorfose de virtude em defeito.

Há, contudo, uma forma muito usual de se manifestar nestas tribunas: doutrinar, catequizar sobre consequências sem análise de causas, em clara violação da sabedoria do filósofo chinês Confúcio quando estipulou “Não pretendo conhecer todas as  respostas mas, tento compreender as perguntas...”.
“Mas o que tem isto a ver com a evasão fiscal?”, questionará o leitor.

Ora, é exactamente aqui que entra Asterix.!!...
Quando Ordalfabetix e Cetautomatix, conterrâneos de Asterix e respectivamente, peixeiro e ferreiro na aldeia dos celebérrimos irredutíveis gauleses, se aperceberam do interesse na construção em comum duma ponte sobre o riacho que os separava da floresta, predispuseram-se, voluntária e aprioristicamente, a materializar  a sua contribuição para a construção da mesma; Quando, mais tarde, Asterix e Obelix a quiseram utilizar nas suas caçadas de javalis, entenderam normal a sua contribuição aposteriorística para a ponte: o pagamento da taxa que então lhes foi solicitada.

Até que, um dia, a aldeia soçobra; O exército romano exige o tributo dos conquistadores, a contribuição para o financiamento da Via Apia, ao que os Gauleses retorquem: “Mas, porquê?... Nunca lá iremos passar!!...”
César respondeu, secamente: “Porque sim... E, ficais sabendo: tal vos é imposto!!...”

Depois, a estória já é conhecida: o humanismo conceptualizou a redistribuição inter-pessoal de riqueza, o “estado-providência” agilizou a redistribuição inter-temporal do rendimento... E, pronto, aí está o IMPOSTO como entidade referencial da sociedade moderna! Para uns, bactéria, vírus; Para outros, elixir de juventude...
... Do que não restam dúvidas é que, a partir do momento em que o Estado começa a sentir a necessidade de justificação do processo de colecta, o cidadão começa a pressentir a utilidade da formulação da questão “Para onde é que vai o meu dinheiro...” ... Daí que, hoje por hoje, a motivação básica da evasão fiscal não seja, em minha opinião, a da propensão excessiva à ilegalidade decorrente duma certa sensação de impunidade, ou a demissão da contribuição para o bem comum ou, sequer, a irresponsabilidade da não ponderação do próprio futuro...
A questão central é mesmo: até que ponto é que o rendimento que hoje é retido está a ser bem administrado, até que ponto é que o valor a redistribuir não estará a ser destruído por um Estado despesista no consumo, laxista no investimento, ineficaz na gestão e ineficiente na produção de bens e serviços públicos...

Não pretendo, desta forma, forçar a lógica de “preço dum serviço” no conceito de Imposto; Mas questiono frontalmente a qualidade do Estado que temos no processo de redistribuição inter-pessoal e/ou inter-temporal do rendimento!!... É aí que se deve colocar a questão: “Para que servem os impostos??...” !!...

Questão à qual o psicólogo laociano Phiouphanh Ngaosyvathn respondeu desassombradamente:
“A fraude está para o imposto como a sombra está para o homem...” (1)


Então, qual o espanto, num país ensolarado como Portugal, com défices profundos de cidadania e participação, exemplos abundantes de despesa pública exorbitante malbaratada, legislação fiscal a que os mais respeitáveis cidadãos apodam de terror fiscal, se menos de 40% das PME’s pagam impostos independentemente da sua rendibilidade real, seja esta positiva ou até negativa?

Quando o processo de redistribuição de riqueza se manifesta injusto e não evidencia sinais de regeneração o que esperar, lucidamente, do contribuinte? 

O engajamento, senão mesmo cumplicidade dos cidadãos-contribuintes nos elevados propósitos de um Estado Social que administra eficientemente os tributos que recolhe proporcionadamente da riqueza gerada por uma economia sã ou a obediência que o Rei Absoluto exige ao súbdito e a sua inevitável resistência?

(1) in “Role de l’Impot” (Vol. II), Ed. Montchrestien, 1998.