Quando, naquela manhã soalheira de Inverno, indiquei ao motorista do
táxi o meu destino - determinado estabelecimento do Ensino Superior - ele
questionou-me, informadamente, sobre em qual das portas, principal ou lateral,
eu preferia ficar.
Meio intrigado,
comentei que ele parecia conhecer bem o sítio, ao que me retorquiu:
“Sim,
sim, conheço bem: andei lá cinco anos a tirar um curso!!...”
Por momentos
recordei outras estórias conhecidas: a licenciada em Direito, balconista de
loja de utilidades domésticas; o licenciado em Gestão, “segurança” numa
instituição pública; os múltiplos eufemismos com que as grandes empresas
mitigam tarefas de execução entregues a recem-licenciados, muitas vezes até com
amputação do título académico, a pretexto duma “convergência na informalidade”
putativamente europeia...
Por momentos
confirmei que, no País que somos hoje, se não estamos já, em certas profissões,
a produzir licenciados para o desemprego, já estamos, contudo, a produzi-los
para o subemprego!!...
Por momentos
constatei a profunda transformação ocorrida neste domínio no nosso País nos
últimos trinta anos.
Até aos anos
setenta, do século passado, o difícil era aceder ao Ensino Superior: a
concentração dos estabelecimentos de ensino, o peso no orçamento familiar da
sua frequência mormente quando determinante de realojamento, o monolitismo da
oferta constituíam obstáculos inultrapassáveis pela maioria da população que,
contudo, uma vez ultrapassados, permitiam o desenrolar duma “passadeira
vermelha” sob os pés do então recém-licenciado em direcção ao mercado de
trabalho...
O ensino superior, a Universidade era então, abastecido(a) pelos
extractos alto e médio-alto da hierarquia sócio-económica criando, deste modo,
uma lógica mais ou menos irreversível:
“Status -
Diploma -
Prosperidade”
A sociedade civil,
contudo, guiava-se e estruturava-se em função duma interpretação enviesada e
incipiente da mesma que prosseguia como silogismo virtuoso:
“Diploma - Status - Prosperidade”
Ora, hoje passa-se
exactamente o contrário: as profundas transformações no domínio sócio-económico
que caracterizaram as três últimas décadas em Portugal fazem com que o acesso à
Universidade esteja razoavelmente facilitado pelo menos em termos comparativos.
O difícil é, de
facto, a obtenção no mercado de trabalho, de colocação compatível!!...
Eis como, portanto,
os episódios citados na início podem ser interpretados não como situações de
excepção fruto da convergência de factores atipicos mas, bem pelo contrário,
como exemplos respigáveis duma realidade social, económica e laboral
característica...
Eis como, portanto,
o silogismo virtuoso “Diploma à Status à Prosperidade” evoluiu degenerativamente
para uma espécie de “Triangulo das Bermudas” das ambições e das ilusões de
todos aqueles que apostaram na receita errada; è que, afinal, o diploma, por
banalizado, já não assegura status
nem sequer prosperidade!!...
O futuro já não é o
que era!!...
Que o percebam,
duma vez por todas, todos aqueles que arribam ao mercado de trabalho oriundos do
Ensino Superior... e, já agora, que transmitam às gerações vindouras os valores
emergentes desta (r)evolução: a Competência, o Trabalho e, como consequência, o
Sucesso...
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